

Professor Reinaldo Feres - Fotos Lygia Aliberti
Rio Preto está numa das regiões de São Paulo mais devastadas do Brasil. A informação é do Biólogo formado na UNESP - Câmpus de Botucatu, mestre em Artropodologia e doutor em Zoologia. Livre- Docente em Invertebrados pela Unesp Rio Preto. Professor universitário, lotado no Depto. de Zoologia e Botânica, do Câmpus de Rio Preto-UNESP, desde outubro de 1984. É também fotógrafo amador, de elementos da fauna e flora. Seu hobby é cultivar bonsais e elaborar haicais. É co-autor do livro Zoopoesia – haicais, poemas & animais, da Editora Rio-pretense. Entre uma aula e outra, ele se prepara agora para lançar um livro sobre aves de Rio Preto. O professor conversou com o blog e revelou o que a maioria já sabe: que as aves, migraram para as regiões verdes que restam na cidade. Confira na entrevista que segue.
Blog - Rio Preto está numa região de Cerrado e como tal sofreu grande devastação. Observamos muitas aves, que antes só eram avistadas no mato, agora na zona urbana. É o caso do gavião Carcará, dos Tucanos e até Siriemas. Como explicar isso?
Prof. Reinaldo - Na verdade nossa região é predominantemente de Floresta Semidecidual. Consta que seja a mais desmatada do estado de São Paulo com cerca de somente 3% da cobertura vegetal original. O avistamento de aves incomuns na cidade se deve justamente a isso. Elas estão sendo "expulsas" do ambiente natural pela ação destrutiva do homem. Como algumas tem grande capacidade de adaptação, acabam encontrando meios de subsistência em parques, jardins etc. Mas nem todas são assim. Muitas são dependentes do ambiente florestal e essas não conseguem sobreviver fora dele.
Blog - Há chances dessas aves se adaptarem e viverem bem, como ocorrem com as capivaras na Represa? Quais são os tipos de aves que o senhor catalogou na região da Unesp?
Prof. Reinaldo - Há chances de adaptação sim, mas de viverem bem é discutível. Não acho que as capivaras vivam bem na represa municipal, com todo movimento de pessoas, barcos/caiaques e carros. Não é o ambiente natural. Elas também estão sendo deslocadas e podem gerar sérios problemas de saúde pública. O ideal era que estivessem em seu ambiente natural e que respeitássemos isso. Na Unesp são 67 espécies fotodocumentadas, mas tem mais. Infelizmente algumas só foram visualizadas e não fotografadas ainda.
Blog - A quê o senhor atribui a presença delas no campus? A proximidade com o bosque municipal tem alguma relação?
Atribuo isso à existência ainda de áreas arborizadas, com árvores que fornecem abrigo, frutos, locais de construção de ninhos etc. A proximidade do bosque favorece pois elas se deslocam entre essas áreas mais vegetadas.
Blog - Como o senhor avalia o interesse dos jovens pela preservação do meio-ambiente?
Ainda há necessidade de muita informação para gerar posturas conservacionistas. Em meu livro digo "só se respeita o que se conhece", e nesse sentido as pessoas ainda não estão bem informadas.
Blog - Como o senhor avalia os investimentos locais em termos de meio-ambiente?
Os investimentos são pífios, se não ausentes. Infelizmente, ainda existem administradores e mesmo técnicos e pessoas da população que confundem investimentos em meio ambiente com urbanização. Áreas naturais dão lugar a praças, ciclovias, iluminação elétrica em ambientes naturais etc.
Blog -Qual a ave mais rara e mais interessante que o senhor verificou na fauna local e que fotografou recentemente?
Uma que me impressionou bastante foi o Udu-de-coroa-azul, eleita para ser a capa desse meu livro. Ela é umas das que dependem de mata sombreada. Só está por aqui pela existência ainda de alguns fragmentos em nosso câmpus, que precisam ser, não só revigorados como ampliados.
Blog - Quem gosta de beija-flores e quer atraí-los, o que deve fazer? Os bebedouros com água doce são prejudiciais?
Não se deve usar esses bebedouros. São causadores de infecção fúngica nessas aves devido a dificuldade de higienização correta dos frascos. O correto é plantar espécies que os atraiam e alimentem. A principal delas é a "grevílea-anã" que produz grande quantidade de néctar. Depois dela temos os camarões-vermelhos e amarelos dentre outras.
Blog - Esse livro é o primeiro de uma série, ou foi apenas uma experiência inusitada?
Já tenho material para outro na mesma linha. Vamos ver se consigo fechá-lo até o próximo ano.
Blog - Qual a dica para quem quer observar e fotografar aves? Há algum local privilegiado em Rio Preto?
Primeiro, procurar se harmonizar com a natureza. Ter paciência e gosto pelo conhecimento. Locais interessantes podem ser até fundos de quintal. Desde que tenham plantas ao invés de piso e piscina. A Represa Municipal ainda nos fornece bom material. Com as obras de urbanização não dá para prever se será ainda por mais tempo. Temos também algumas áreas rurais próximas da cidade que conservam um ou outro fragmento de mata que abrigam belas aves.
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