O novo Código Florestal deve afetar a biodiversidade e acabar com a população de anfíbios da região. O assunto é tema da revista científica mais importante do mundo, a Science, que publicou em sua edição de maio artigo de pesquisadores da Unesp Rio Preto sobre o assunto. Uma pesquisa desenvolvida pelo biólogo da Unesp Rio Preto Fernando Rodrigues da Silva, vinculada a um grande projeto regional financiado pela BIOTA-FAPESP, sob orientação da docente Denise Cerqueira Rossa-Feres foi divulgada pela Science.
O fim dos sapinhos
De acordo com a pesquisa, um dos pontos mais polêmicos do novo Código Florestal Brasileiro, é a redução de 30 para 15 metros das áreas de proteção permanente em bordas de riachos com até 5 metros de largura. Essa é a situação em que se encaixa a maioria dos riachos do País e da região do interior de São Paulo. Se aprovado, o Código pode prejudicar a diversidade de anuros da região, como mostra a pesquisa dos pesquisadores rio-pretenses.
O conteúdo
Foi para abordar essa importante questão ambiental e compreender a influência dos fragmentos florestais no padrão de distribuição dos anfíbios na região que Fernando Silva desenvolveu sua tese de doutorado. Segundo ele, as espécies de anfíbios dessa região reproduzem-se em poças em áreas de pastagem, mas precisam dos fragmentos florestais como áreas de alimentação, áreas de deslocamento e de refúgio durante a forte estação seca. Os resultados mostraram que fragmentos florestais maiores que 70 hectares abrigam maior riqueza e abundância de espécies de anfíbios do que fragmentos menores, aumentando, consequentemente, o tamanho das populações locais e a viabilidade das populações em geral. “Caso ocorra a diminuição da área de cobertura vegetal nativa, haverá diminuição na riqueza de espécies desses animais”, diz o pesquisador.
Retrocesso
Com a diminuição das áreas florestais, muitos dos processos ecossistêmicos – regulação do clima e da qualidade e do volume das águas em riachos, polinização de plantas cultivadas e controle de pragas –, que são serviços fornecidos pela vegetação natural, serão perdidos, com grande prejuízo para as áreas cultivadas e irrigadas que dependem desses processos para manter sua produtividade, destaca Silva: “Nesse sentido, o conflito entre produtores rurais e ambientalistas é falso, não existe. Os resultados comprovam que mesmo pequenos fragmentos florestais são importantes para manter uma alta diversidade de anfíbios e, surpreendentemente, de anfíbios de áreas abertas”.
Animais e plantas
O pesquisador alerta que, contudo, não são só essas espécies que estão ameaçadas. “O novo código permitirá que ocorram desmatamentos em áreas de morros e encostas que abrigam espécies endêmicas de anuros em regiões da Floresta Atlântica e em áreas de proteção permanente. Caso isso ocorra teremos uma perda inestimável de diversidade de espécies não só de anfíbios, mas de outros grupos animais e vegetais”, afirma.
Biodiversidade
Para a pesquisa do seu pós-doutorado, o estudante pretende continuar seus trabalhos investigando os efeitos da fragmentação florestal por meio da análise do padrão de distribuição espacial de 12 grupos biológicos (anfíbios, répteis, aves, fanerógamas, ácaros, fungos, algas, insetos, pteridófitas, briófitas, peixes, zooplancton) em 18 fragmentos de floresta Atlântica Semidecidual.
Destaque
Por conta da grande relevância do tema e da qualidade da pesquisa, os pesquisadores Fernando Rodrigues da Silva, Vitor Hugo Mendonça do Prado e Denise Cerqueira Rossa-Feres, todos do câmpus, publicaram na revista especializada “Science”, edição do dia 27 de maio, uma carta sobre os impactos do novo Código Florestal para a preservação das comunidades de anfíbios. O mundo já sabe o que insistimos em não ver: o Brasil pode acabar com sua biodiversidade por interesses políticos.
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